quinta-feira, 17 de abril de 2008

Fala Professor !!!

A evasão escolar e a necessidade da sobrevivência

Tenho acompanhado nos últimos anos uma triste realidade em Barra do Garças: a evasão de alunos das salas de aulas. Como integrante de uma escola da rede pública, o fato me preocupa e merece uma atenção especial por parte das autoridades. Afinal, a educação, conforme reza a Constituição Federal, é um direito de todos e um dever do Estado. Porém, o que vemos é o estudante na fase do ensino médio cada vez mais distanciado da escola. Fatores? Existem vários.
É comum no início do ano letivo a presença maciça de alunos, o que nos enche de alegria e nos entusiasma para o exercício diário da profissão. Levar o nosso conhecimento e contribuir para a formação, é mais do que uma obrigação; é um verdadeiro desafio diante dos obstáculos que nós, professores, enfrentamos no dia-a-dia. A luta por uma remuneração mais digna é um delas. No entanto, o fator preocupante é outro.
Ao longo dos últimos anos tenho acompanhado um alto índice de matrículas e freqüência regular nos primeiros meses do calendário escolar. Mas, essa assiduidade é “brecada” repentinamente pela real necessidade da sobrevivência, ou seja, a conciliação escola-trabalho, fica cada vez mais difícil e o resultado é justamerrte a chamada evasão: na essência da palavra, a desistência. Nós, professores estamos observando essa manifestação com pés, e mãos atados.
Em diálogos com colegas de salas, tenho manifestado essa preocupação e levantando questões, pois a ausência do aluno afeta diretamente a todos. A existência de um se justifica pela necessidade do outro e vice-versa. Diante desse quadro, a quem recorrer? Não levantei números, mas o que percebi é que além da desistência das salas de aulas, os jovens têm atentado para caminhos diferentes, como a mudança de cidade. O que é uma perda para todos. Conciliar trabalho e escolha tem sido uma árdua tarefa. Poucos são aqüeles que conseguem essa proeza e, quando chegam lá, comemoram pela etapa vencida. Como professor da rede pública, tenho procurado, na medida do possível, incentivar e mostrar aos meus alunos que a jornada é longa, mas compensadora. Gostaria que as autoridades também pensassem desta forma e contribuíssem para evitar o que vem ocorrendo. E preciso que se crie alternativas (incentivar as micro-empresas por meio de incentivos fiscais e promover uma ampla reforma tributária). E preciso um compromisso de governo e empresa para que a oportunidade do estudo seja oferecida para quem quer freqüentar e permanecer na sala de aula.
A ausência dos alunos das salas de aulas, além de prejudicar seu próprio futuro, prejudica também a qualidade do ensino público. Sem aluno não existe investimento e sem investimento não há educação condizente a realidade de um país que almeja o seu desenvolvimento. Portanto, é uma realidade que precisa ser avaliada e questionada para que não tenhamos uma nação sem futuro. Afinal de contas, o futuro está na educação.
Vamos refletir. Vamos buscar uma saída para mantermos nossos jovens nas salas de aulas. Buscarmos uma vida melhor para quem hoje luta as duras penas pela sobrevivência sem uma perspectiva de dias melhores. A tarefa não é apenas de quem pretende freqüentar uma sala de aula, mas também de quem precisa ,de uma sala de aula para garantir o seu sustento. O exercício da profissão não é apenas de ensinar, é também a garantia da existência da escola pública de qualidade. Pense nisso. E bom e salutar para todos.

Luiz Borges Leal, é Licenciado em História e Professor da Escola Estadual de
Irmã Diva Pimentel em Barra do Garças.

Publicado no: Notícia dos Municípios, Vale do Araguaia, 12 a 26 de abril de 2008 - nº 99

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